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Matéria - Monumento Natural Gruta do Maquiné

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Contada em milhões...

Texto e fotos: Marcelo JB Resende. REPRODUÇÃO PROIBIDA.



Corria o ano de 1825 quando o fazendeiro Joaquim Maria do Maquiné, dono daqueles terras, descobriu por acaso uma lapa. O que parecia ser um simples buraco na terra se revelou um portal para um universo paralelo de formas, cores e segredos inimagináveis. Abria-se para o mundo a Gruta do Maquiné, como passaria a ser chamada, berço da paleontologia brasileira e uma das maravilhas de Minas Gerais.




O "seu" Maquiné e os primeiros exploradores tiveram o privilégio de enxergar as maravilhas daquela gruta até então intocada e plenamente viva. A fama de lugar extraordinário se alastrou e atraiu muitos curiosos. O mais importante deles, e que entraria para a história como o "pai da Paleontologia brasileira", foi Peter Wilhelm Lund. Vindo da Dinamarca, o médico, naturalista e cientista primeiro se estabeleceu em Niterói (RJ), onde fez os primeiros estudos sobre fauna e flora. Após um breve retorno à Europa, volta em definitivo ao Brasil (1833) e parte em viagem pelo interior, passando por Paracatu e Curvelo, em Minas Gerais. Nesta última cidade conhece o compatriota Peter Clausen, que lhe dá notícia de ossos fossilizados encontrados em grutas próximas, na região de Lagoa Santa. Clausen lhe apresenta Maquiné. A imagem das ossadas no templo magnificente nunca mais sairia de sua memória, mudando a trajetória científica de Lund, que passa a se dedicar à paleontologia e à arqueologia.



Salão Peter Lund.

Todos estes deslumbrantes primores da natureza são realçados
pelos mais delicados ornatos tanto de formas fantásticas quanto de
bom gosto, franjas, grinaldas e uma infinidade de outros enfeites,
cuja enumeração seria fastidiosa e incapaz de dar idéia da beleza
do conjunto àqueles que não o viram com os próprios olhos".

Lund

 

Nas primeiras grutas exploradas (incluso Maquiné), foram encontrados fósseis notáveis pelo tamanho, como o Tigre-Dente-de-Sabre e a Preguiça Gigante. Maquiné inaugurou 10 anos de pesquisas de Lund na região, com quase uma centena de grutas exploradas, onde catologou cerca de 12.000 peças fossilizadas. A maior parte deste acervo, que permitiu conhecer a vida no período pleistoceno no Brasil, foi enviada para a Dinamarca (a monarquia dinamarquesa financiava as pesquisas). Muitos consideram Lund também pai da arqueologia e da espeleologia brasileiras, além de um dos precursores da consciência ecológica no país. Seu amor pela gruta chegou a ponto de pedir sua preservação em testamento.

 

Já naquela época, o dinamarquês denunciava a exploração predatória do Maquiné. Intrusos incautos extraíam dela o salitre, nitrato utilizado na produção de pólvora e fertilizantes. Com isso, muitos espeleotemas (formações rochosas derivadas da sedimentação e cristalização de minerais pela ação da água, como estalactites e estalagmites), que demoraram milhões de anos para se formar, eram destruídos em segundos. Soma-se a cobiça até de pesquisadores, que retiravam os fósseis para vendê-los na Europa.


O fim dos estudos de Lund deixou Maquiné à mercê completa de exploradores, turistas ocasionais e vândalos. O pretume da fumaça de tochas e lampiões, associado ao vandalismo registrado em nomes rabiscados nas paredes e espeleotemas, destruiu para sempre muito da beleza milenar original. Mas Maquiné é tão bela, mas  tão bela, que, mesmo depois de agredida por décadas, é capaz de surpreender. No início não havia guia e a entrada era franca. O turismo em maior número vem desde 1908, mas foi somente em 1967 que a gruta recebeu a primeira iluminação e um acesso calçado (a estrada era de terra). Desde então passou por duas reformas (1999 e 2009).  

 

Na Gruta do Maquiné não foram encontrados fósseis humanos, mas com certeza o local fora muito visitado por nossos ancestrais. A lapa (grande laje de pedra) e o primeiro salão (com iluminação externa), na entrada da gruta, serviram como abrigo excepcional. Pinturas rupestres atestam esta presença remota, entretanto não há evidências de que os homens antigos se aventuraram e conheceram as belezas ocultas na entranhas do Maquiné.


Formação geológica:

 

Maquiné, um dia, já foi fundo de mar. As grandes lajes que formam seu teto têm idade estimada em mais de 600 milhões de anos. Durante pelo menos a metade deste tempo (300 milhões de anos), sua composição calcária permitiu a infiltração da água, num trabalho paciente e contínuo de construção e descontrução que formou vazios (cavernas, grutas e lapas). Nestes espaços vazios o gotejamento milenar da água criou ambientes ricamente decorados, compostos a partir de depósitos minerais, especialmente a calcita (que é um carbonato de cálcio). Geralmente branca, transparente e brilhante, a calcita tornou-se um substrato ideal ao receber colorações e tons diversificados das impurezas e demais minerais infiltrados na rocha calcária. Conhecidos como espeleotemas, estes depósitos minerais deram origem a estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, escorrimentos etc. Os maiores e/ou mais complexos chegam a ter, em média, 60 milhões de anos.

 

“E, mais do que tudo, a Gruta do Maquine - tão inesperadamente grande, com seus sete salões encobertos, diversos, seus enfeites de tantas cores e tantos formatos de sonho, rebrilhando risos de luz – ali dentro a gente se esquecia numa admiração esquisita, mais forte que o juízo de cada um, com mais glória resplandecente do que uma festa, do que uma igreja.”

“Em cada salão, um espanto; em cada galeria, uma surpresa; em cada suspiro, Maquiné”.


Guimarães Rosa - famoso escritor, médico e diplomata nascido em Cordisburgo (Minas Gerais).



Salão do Carneiro.


Peter Wilhelm Lund, naturalista dinamarquês do séc. XIX.


Uma das pinturas rupestres, na entrada da gruta.


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