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Matéria - Ouro Preto

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Dois Distritos - Duas Emoções

Texto e Foto: Marcelo JB Resende. Colaboradora: Kelly Juliane Dutra (Turismo - UFOP). Reprodução proibida.



Montanha dos Prazeres

Lavras Novas é um desses lugares que se guardaram por muito tempo. Uma localidade outrora perdida, felizmente redescoberta pelos visitantes. Já é grande o movimento de turistas nos finais de semana e feriados prolongados. Belas pousadas e restaurantes já despontam no relevo montanhoso, proporcionando conforto e deleite junto à simplicidade do povo e rusticidade da paisagem.




Pela estrada já dá para ver que o destino é especial. Afinal, o caminho já é parte do passeio. Preste atenção nas curiosidades. De repente, em meio à estreita estrada, subindo a serra, você se depara com uma pedra perfeitamente equilibrada sobre um pequeno apoio. Mágica? Não, física pura!

 

O distrito é pequeno e sua visão dominada pela matriz N. Sra. dos Prazeres. O nome parece ser proposital. O prazer é a sensação dominante em Lavras Novas, alternada por vezes pela surpresa, pelo encantamento... Berço de muitas lendas, incluindo uma que diz ter existido ali um quilombo. Os mitos são traduzidos no rico folclore de Lavras Novas. As maravilhas naturais se escondem. O trajeto nem sempre é dos mais fáceis. Requerem um pouco de esforço a mais. Mas vale a pena! Sempre!



Antigo quartel da Cavalaria de Minas (aqui trabalhou Tiradentes), em Cachoeira do Campo. Atual colégio Dom Bosco.

Para conhecer e aproveitar melhor um passeio por Lavras Novas, vá sempre acompanhado de um guia local. As atrações são mal sinalizadas e algumas oferecem perigo, como a cachoeira do Rapel. Com mais de 200 metros de queda - contando todos os seus degraus - não é recomendada para turistas inexperientes. Mesmo assim é possível chegar perto da queda, passando por outra atração: os pocinhos. São ideais para um refrescante banho.

 

Tem mais: cachoeira dos Namorados, cachoeira Três Pingos, represa do Custódio... A mais bela cachoeira, inclusive, leva o mesmo nome da represa. O acesso é demorado, o carro vai até certo ponto. Depois são mais ou menos quarenta minutos de caminhada. Contudo o sacrifício é recompensado pela força da queda. Uma chuva fina, formada pelo bater ruidoso das águas, refresca o cansaço. Não é a toa que Lavras Novas tem como padroeira a Virgem dos Prazeres. Nada mais oportuno. Aproveite!

 

Refúgio da História

Cachoeira do Campo não é apenas o maior distrito de Ouro Preto. Seu passado de glória e acontecimentos importantes o colocam definitivamente no cenário histórico de Minas Gerais. A maior parte de seu acervo arquitetônico já não existe mais, mesmo assim imponentes ruínas e construções remanescentes resistem ao tempo, denunciando a majestade de outrora.

 

O grande bandeirante Fernão Dias Paes - o Caçador de Esmeraldas - foi provavelmente o primeiro a alcançar uma linda queda d'água em meio a um vasto campo. Isto se deu por volta de 1675, bem antes de serem descobertas as fabulosas minas do Tripuí. Acredita-se que o primeiro aventureiro a se fixar no local tenha sido Manuel de Mello. Depois vieram outros, principalmente com a descoberta de jazidas de ouro. Mais imigrantes, mais bocas para alimentar. E a produção agrícola de Minas não era suficiente, pois muitos lavradores tinham abandonado suas atividades para se dedicarem às lavras auríferas. Nesse curso, em 1700, surge uma grave crise de abastecimento. Cachoeira do Campo responde e desponta como centro agrícola de toda a região. Uma poderosa aristocracia se consolida, com influência e dinheiro o bastante para construir prédios suntuosos para a época. Aliás, mesmo hoje seriam considerados suntuosos. A pompa e luxo fizeram morada em Cachoeira. Não demorou para que o poder também a escolhesse como residência.

 

Tantos interesses acabaram por transformar o arraial em palco de importantes conflitos durante todo o séc. XVIII. O primeiro foi a sangrenta Guerra dos Emboabas (1707-1709), envolvendo paulistas e demais imigrantes. Ambos lutavam pelo controle das minas. A revolta se espalhou por outros arraiais, mas devido a sua projeção, Cachoeira testemunhou a batalha decisiva. Manuel Nunes Viana, liderando os emboabas, levou a melhor. Foi sagrado o primeiro governador de Minas, provavelmente na matriz N. Sra. de Nazaré, em Cachoeira. Foi também o primeiro a ser empossado nas Américas pela vontade do povo. Seu intento, no entanto, não durou muito. Em vista do conflito a Coroa determinou a criação da Província de São Paulo e Minas de Ouro (1709). O capitão Antônio de Albuquerque foi nomeado oficialmente governador e Mariana escolhida como capital.

 

Os ânimos voltaram a se acirrar alguns anos depois, em 1720. Felipe dos Santos, minerador de Vila Rica, liderou uma revolta contra a instalação das Casas de Fundição e consequente recolhimento pela Coroa de um quinto de todo o ouro extraído. Era a Sedição de Vila Rica, que obtinha a simpatia de várias camadas da população. O episódio mais importante da revolta se deu na praça da matriz, em Cachoeira do Campo: a prisão de Felipe dos Santos, enquanto insurgia o povo. Foi condenado à morte. Há controvérsias sobre sua execução: enforcamento e esquartejamento ou se teve o corpo amarrado a cavalos, que saíram em disparada estraçalhando-o. Baseado nos acontecimentos o governador de Minas, o Conde de Assumar, determinou o desmembramento da capitania em duas. Estava criada a província de Minas Gerais.

 

Enquanto Vila Rica se transformava na capital da nova província, Cachoeira do Campo se tornaria a residência oficial do governador. Desta maneira as decisões seriam tomadas com mais tranquilidade, longe do fogo cruzado das opiniões vigentes na capital. O palácio de campo do governador era uma construção suntuosa. Relatos de época o descrevem como inigualável, dotado dos mais valiosos requintes. O prédio lamentavelmente não existe mais. A grandiosidade de suas ruínas servem de testemunho daqueles tempos áureos.


Interessantes fatos da Inconfidência Mineira se deram em Cachoeira. O quartel da Cavalaria, onde trabalhava Tiradentes, foi um importante reduto do movimento. De lá sairia o batalhão que prenderia o governador, Visconde de Barbacena, e tomaria o poder. O governador passava a maior parte do tempo no palácio em Cachoeira. De uma das torres da igreja N. Sra. das Dores - utilizada para alguns encontros dos inconfidentes - era possível acompanhar toda a movimentação externa do palácio, sem ser percebido. Não deu certo: Joaquim Silvério dos Reis traiu a causa libertária. Era o fim de um sonho, que renasceria 30 anos depois, com a Independência do Brasil (1822).

 

Outras informações sobre Cachoeira do Campo:

- Projeto Redescobrindo Cachoeira
  cachoeiradocampo@gmail.com
- AMIC (Associação Cultural Amigos de Cachoeira do Campo)
- Tel: (0xx31) 3553-1631



Matriz N. Sra. de Nazaré, em Cachoeira do Campo.


Antiga Ponte do Palácio, em Cachoeira do Campo.


Estrada para Lavras Novas.


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