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Matéria - São Gonçalo do Rio Preto

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Onde termina a Estrada Real

Texto e Foto: Marcelo JB Resende. REPRODUÇÃO PROIBIDA.



A história de São Gonçalo do Rio Preto se confunde com a do Distrito Diamantino, que abrangia toda a região na segunda metade do séc. XVIII. No início os diamantes eram encontrados aos milhares no leito dos rios e usados pelos distraídos e incautos como "tentos" em jogos de mesa ou de tabuleiro. Mal sabiam eles o "cacife" daqueles pedrinhas. Mas a época da inocência veio a acabar, definitivamente.




Descobertos no antigo arraial do Tejuco (hoje Diamantina), os diamantes trouxeram levas de desbravadores gananciosos. Os primeiros chegaram em meados do século XVIII, período que coincide com o surgimento do povoado de Rio Preto, em torno de uma pequena capela erigida em honra de São Gonçalo (não existe mais). Logo tornou-se pouso de tropeiros, que comercializavam produtos vindos da Bahia e Jequitinhonha (norte de Minas Gerais), com destino principalmente ao Tejuco. E também de aventureiros e contrabandistas. Os caminhos que davam acesso ao Distrito Diamantino eram rigidamente fiscalizados, visando coibir o comércio ilegal da pedra preciosa. A Estrada Real, o lendário caminho do ouro e pedras preciosas, termina justamente em São Gonçalo do Rio Preto.



Capela Bom Jesus.

Do Distrito os diamantes seguiam pela Estrada Real, com escolta permanente e fiscalização nos registros, até o porto do Rio de Janeiro, passando pela também lendária Vila Rica (atual Ouro Preto), Conselheiro Lafaiete, Barbacena, Juiz de Fora...

 

O Distrito Diamantino era tão importante que a região respondia diretamente ao rei de Portugal, tendo administração independente em relação ao restante da província de Minas Gerais. Quem mandava e desmandava era o "contratador". Já em meados de 1749 um destes contratadores, Felisberto Caldeira Brant, visitou as paragens do rio Preto em busca de diamantes. Felisberto fez história. Nasceu em São João Del Rei, era de ascendência nobre (filho de fidalgo português) e ficou conhecido pelo gênio aventureiro, impulsivo e tempestuoso. Fez fortuna em garimpos de ouro em Goiás e Minas Gerais. Não satisfeito, arrematou o "terceiro contrato" para as lavras de diamantes no Tejuco, tornando-se, durante a vigência, o homem mais poderoso da região.


  Durante seu contrato a cidades diamantinas experimentaram um grande desenvolvimento, com a população aumentando e parte dela se enriquecendo. Diz-se que o contratador fazia vista-grossa, até certo ponto, à extração clandestina e ao contrabando, o que permitiu a muitos garimpeiros tornarem-se ricos. Nesse sentido angariou muitos amigos entre a população e poderosos inimigos na corte e no governo da província de Minas Gerais. O contratador, que também vez fortuna com diamantes, neles encontrou a ruína, sendo sistematicamente perserguido até ser preso e enviado a Portugal, onde sobreviveu ao terrível terremoto em Lisboa (1755) e veio a falecer em 1756. A história de Brant é bastante interessante, cheias de altos e baixos, um capítulo à parte na história do Distrito Diamantino. Seu neto, Felisberto Caldeira Brant Pontes de Oliviera Horta (1772 - 1842), o Marquês de Barbacena, participou da Independência do Brasil, foi ministro, deputado e senador do império brasileiro.   


Na época do contratador Brant, grandes famílias já haviam se estabelecido no povoado de Rio Preto, estima-se desde 1734, de acordo com os relatos posteriores do jurisconsulto, jornalista e historiador Joaquim Felício dos Santos (1822-1895). Eram basicamente famílias que se dedicavam à agricultura, à criação de animais e à extração de madeira para abastecimento de Diamantina. O fato de estar "à beira do caminho" facilitava assim a venda e o escoamento da produção. O distrito passaria a ser chamado de São Gonçalo do Rio Preto somente no início do século XX. Logo em seguinda (1923) recebeu o nome de Felisberto Caldeira, emancipando-se de Diamantina em 1963. Em 1986, por lei estadual, a cidade resgatou a denominação antiga de São Gonçalo do Rio Preto.  

 

 O vale do rio Preto também serviu como esconderijo de escravos fugidos, que conheciam como ninguém as matas e as serras da região. De lá partiam em jornadas epopeicas, com destino a quilombos e focos de resistência na Bahia, bem mais ao norte. É famosa a cachoeira do Crioulo, na área do Parque Estadual, onde pinturas rupestres, espalhadas em vários sítios arqueológicos, também atestam a presença humana, estimada em milhares de anos atrás



Cachoeira do Crioulo, no Parque Estadual do Rio Preto.


Rio Preto.


Praia do Lapeiro.


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